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Currículo: uma história por trás do inglês básico

  • Foto do escritor: Taciane Baptista
    Taciane Baptista
  • 25 de set. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 20 de nov. de 2023

Em um mundo onde falar inglês é requisito para alcançar cargos com maiores remunerações, convidamos você a conhecer uma trajetória que se assemelha a de muitos que não dominam esse idioma


Imagem: Freepik


Qual foi a última vez que preencheu um formulário para concorrer à uma oportunidade profissional, se deparou com o campo "línguas estrangeiras" e se perguntou: qual nível de inglês eu coloco? 


Não sei você, mas ainda marco a opção básico no formulário, sendo essa a parte do meu currículo que ainda não avançou. Refleti sobre o porque do meu inglês ser básico, assunto o qual a maioria não tem espaço para falar a respeito. As empresas questionam se somos bilíngues mas, nunca perguntam o motivo de sermos ou não.


Como boa parte dos brasileiros, nasci sem privilégios, filha de um mecânico e uma empregada doméstica. Meus pais priorizaram garantir com muito esforço, o básico: alimentação e educação. Cresci em uma casa de três cômodos, com direito a roupa e calçados novos uma vez no ano, por meio do décimo terceiro salário da minha mãe.


A realidade da escola pública, nos anos 2000 pelo menos, nos introduziram ao inglês na 6° série. Ainda me lembro da minha primeira aula da disciplina.  Era um ditado de palavras, as quais nunca tinha ouvido e tão pouco sabia o significado. Dali em diante chegou o verbo "to be", e o inglês público se resumiu a isso até a formatura do ensino médio. 


Com a aproximação da maior idade, logo ficou claro a importância da língua para o mercado de trabalho, e com esse entendimento chegou a notícia de que os filhos da patroa da minha mãe iriam para fora do país por seis meses para aperfeiçoarem o inglês.


Enquanto isso, ainda escolhíamos entre comer ou vestir, sem reservas financeiras para cursos particulares de idiomas ou intercâmbios, para mim e meus dois irmãos.


Assim que me formei a prioridade foi o trabalho, afinal, estava em busca de uma vida melhor. Pouco tempo depois, iniciei a faculdade particular onde a maioria estuda após enfrentar uma jornada árdua de trabalho para arcar com as mensalidades. E sabe? O inglês ainda não tinha espaço na minha rotina e renda.


O meu intuito não é vitimizar. Ouço histórias de pessoas que aprendem idiomas sozinhas. Mas cada um tem sua forma de aprender. O objetivo é trazer reflexão para você que ainda não marca inglês avançado nos formulários de vagas, e para quem marca repensar sobre a sua jornada.


Em um país de tamanha desigualdade, talvez esse quesito do questionário só torna tudo mais desigual. Quem sabe está na hora de manter a famosa pergunta e acrescentar se a pessoa tem interesse em aprender o inglês? Identificar se existe vontade dos candidatos em estudar uma nova língua e entender se questões sociais os impedem de ser bilíngues.


Essa iniciativa já levam as possibilidades aos caminhos diferentes da exclusão. As corporações e governo podem se conscientizar para ajudar ativamente as pessoas socialmente vulneráveis no processo de aprendizagem de um novo idioma.


Hoje, os caminhos que tracei com os poucos recursos vindos da base que tive, me permitiram ser "herói" da minha própria história, mas nem eu e meu cavalo falamos inglês, ainda (referência a música João&Maria de Nara Leão, Sivuca, Chico Buarque).


Crédito: imagens Laís Almeida e música Chico Buarque

 
 
 

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