Representatividade: O afroempreendedorismo no Brasil
- Black Redatoras
- 14 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Negros são mais da metade da população brasileira, mesmo assim, no perfil do empreendedorismo, ainda há baixa representatividade

Crédito: Imagem Freepik
Correspondendo a 57,1% da população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, (IBGE), pessoas pretas ainda são minoria no empreendedorismo.
Apesar do vasto crescimento comprovado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, (PNAD), entre os anos de 2001 à 2011, o número de afroempreendedores é pequeno e menor ainda para os que empreendem formalmente.
Já o estudo A voz e a vez, diversidade no mercado de consumo e empreendedorismo, realizado pelo Instituto Locomotiva, sobre a estruturação do empreendedorismo negro, 82% não têm Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, (CNPJ ), frente aos 60% dos não negros.
Gráfico do número de pessoas negras no Brasil

Fonte: IBGE

Fonte: Correio Brasiliense
Ainda há muita desigualdade no empreendedorismo, mas qual o motivo?
Algumas pessoas atribuem o peso da desigualdade nas marcas que a escravidão deixou na população, outras na condição de informalidade que a população negra vive.
A população negra é o grupo que mais abre novos negócios no Brasil, mas é aquele que menos fatura. De acordo com o Global Entrepreneurship Monitor de 2017, pesquisa realizada em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, (Sebrae), negros correspondem a 51% dos empresários do país, porém formam apenas 1% daqueles que ganham de R$ 60 mil a R$ 360 mil e totalizam 60% dos empreendedores que não lucram nada. Para mulheres negras, no entanto, manter empresas de pé pode ser uma tarefa especialmente desafiadora”.
Na pele
Em julho deste ano, a engenheira de produção Keyla Emanuelle Cordeiro do Couto, se desvinculou o mercado formal de trabalho em meio a pandemia causada pelo novo Covid-19. Assim, decidiu alavancar o seu próprio negócio, voltado para a área de confeitaria. Couto destaca a importância do afroempreendedorismo nos dias atuais e salienta a dificuldade de ser uma mulher negra. "Quando a luta pelo objetivo traçado é alcançada, desperta em si e em outras pessoas a quebra de estigmas construídos pela discriminação racial", comemora.
"Escolhi a minha marca por quem eu sou", afirma sobre a importância de ser fiel a si mesma na hora de montar um negócio.

Foto: Keyla Emanuelle/ Acervo pessoal
Desafios
Quando o assunto é desafio, para Keyla, a maior dificuldade enfrentada estava no início da sua empresa por não possuir uma marca, uma vez que, apenas vendia seus produtos entre amigos e não expandia o seu negócio. Após o investimento na área, observou poucas pessoas negras inseridas nesse meio e na maioria das vezes, identificava a subestimação vinda da população ao contratar os serviços.
"A cor da pele indefere na capacidade do ser. O que vai diferenciar uma pessoa da outra é como a pessoa trabalha, se a pessoa tem técnica ou não, se a pessoa tem experiência ou não”, conclui.
Segundo o historiador étnico, psicanalista e especialista em assuntos sociais, Walter Vaz Júnior, os desafios que o preto empreendedor enfrenta estão ligados diretamente a consciência da população negra, que em sua maioria não consome produtos nem contrata serviços fornecidos pela mão de obra preta.
Júnior acredita que essa atitude, provoca diminuição no reconhecimento do trabalho de origem afro, que por sua vez, não ganha destaque entre os não negros.

Foto: Walter Vaz Júnior/ Acervo pessoal
Solução
Walter, declara que para contribuir com solução do problema de desigualdade no meio mercadológico é necessário haver uma conscientização vinda de berço sobre a importância do autorreconhecimento.
Acrescenta que, em algumas situações, para proteger os filhos, os pais têm dificuldade de conversar com eles sobre a cor da pele e os adequarem esteticamente no padrão afro, acreditando estar protegendo-os do sofrimento que outrora passaram em sua infância.
No entanto, o especialista destaca a importância de ter conhecimento para pensar criticamente sobre questões que envolvam e valorizam produtos pretos. "Por isso, é importante fortalecer os negócios do povo preto" enfatiza.
Keyla, alega que a especialização do profissional contribui na relação com o cliente e diz que em seu negócio comunicar corretamente com o público foi um facilitador em sua carreira Ao ser questionada sobre um conselho aos afroempreendedores inciantes, inspira: "Uma dica é nunca desistir! É correr atrás! é batalhar! [...] e buscar se formalizar, buscar um profissional, um curso, alguma coisa que faça seu potencial ser nítido", encerra.
Confira a entrevista completa com a afroempreendedora, Keyla Emanuelle em nosso podcast.
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